terça-feira, 2 de abril de 2013

Crônica & Resenhas. Por Edna Domenica Merola.

A crônica ganha cada vez mais espaço literário. O presente texto pretende ilustrar como o referido gênero pode ser profícuo ao se valer da estratégia de resenhas. Em forma de colagem, vale-se de seis obras de cinco autores diferentes para analisar disfunções do bem-estar humano: a fofoca e schadenfreude (que significa satisfação obtida com a desgraça alheia); o assédio moral.
Um levantamento realizado pela Linkedin revelou que a fofoca é o que mais irrita os profissionais brasileiros no ambiente de trabalho. A resposta foi apontada por 83%, enquanto a média global era de 62%.
O psiquiatra José Ângelo Gaiarsa em seu livro Tratado Geral Sobre a Fofoca afirma que somente 20% das informações trocadas entre as pessoas são realmente úteis e que a fofoca está diretamente ligada à insatisfação que as pessoas sentem com relação às suas vidas. Ele argumenta também que nós estamos sempre envolvidos em fofoca, seja como vítimas, seja como agentes. Veja um trecho (extraído do capítulo 3 - "Uma Hipótese Chamada Fofoca"): "Todos nós nos sentimos VÍTIMAS da fofoca - quando ela chega a nós. Mas ninguém se sente AGENTE da fofoca. Estranho, não? É que fofoca MESMO só "ELE" faz... - Eu? - NUNCA!”.
O livro Como funciona a Fofoca escrito por Tracy V. Wilson e traduzido por HowStuffWorks Brasil traz dados que são frutos das pesquisas de vários cientistas sobre o tema. Alguns pesquisadores concluíram que a fofoca começou como uma forma pela qual os primeiros humanos conheciam seus vizinhos para determinar em quem podiam confiar. A fofoca seria, portanto, uma ferramenta necessária para a sobrevivência.
Robin Dunbar, autor de Grooming, Gossip and the Evolution of Language, apresenta uma teoria segundo a qual a fofoca nas sociedades humanas tem o mesmo papel que o coçar nas sociedades primatas, porém com mais eficiência. Dunbar foi mais longe ainda ao afirmar que a linguagem evoluiu para que as pessoas pudessem fofocar e, assim, estabelecer e defender seus grupos sociais de forma mais eficaz.
Dentre as semelhanças apontadas entre “jogar conversa fora” e o coçar ressalta-se a constatação de que é distração ou desabafo; podendo vir a reforçar os laços sociais. As pessoas que partilham da roda de conversa passam a fazer parte de um grupo, reforçando as interações sociais. Os membros de um grupo influenciam a opinião uns dos outros, trocam informações importantes, apontam e reforçam regras sociais, aprendem com os erros dos outros. As conversas sem compromisso e aparentemente fúteis podem ajudar as pessoas a aprenderem como se comportar e como entender o funcionamento social de forma mais rápida e eficiente que a observação direta.
Uma conversa pode ser fútil sem ser maldosa. Porém, isso não significa que todas as fofocas sejam boas. O grande marco divisor é distinguir se há ou não desejo de prejudicar os outros e se isso implica em inexplicável prazer. Ou seja, a pergunta que não deve calar é:
− Houve o que a língua alemã consegue resumir numa só palavra, a saber: schadenfreude que significa satisfação obtida com a desgraça alheia?
Quando alguém espalha fofocas negativas e aumenta o próprio status social à custa dos outros, a sociedade depara-se com uma situação de grande prejuízo ético. Em tempos de grande audiência do programa televisivo Big Brother todos deveriam se preocupar muito com isso!
Desta feita, quando ocorre schadenfreude fica difícil apoiar a fofoca como uma ferramenta social necessária.
Mas não se pode tampouco depreciá-la como um mal social desnecessário, se considerarmos as conversas de adolescentes que em seu grupo falam sobre outros colegas de classe que não se encontram em seu grupo. Trata-se, no caso, de mecanismo de autoafirmação usado para o próprio desenvolvimento.
O Psicólogo Rogério Martins (autor do livro Reflexões do Mundo Corporativo) afirma que o ambiente corporativo é altamente favorável para as fofocas ("rádio peão") e que isso traz prejuízos às finanças e ao ambiente. Rogério Martins prescreve cinco dicas para lidar com a fofoca:
1. ÉTICA - o primeiro passo para evitar a fofoca é pensar o quanto a informação que está sendo passada é verdadeira e se vai acrescentar alguma coisa caso seja passada adiante. Pense: o que vou ganhar com isso? Esta informação trará melhoria no ambiente que estou? Irá favorecer os relacionamentos?
2. REFLEXÃO - sempre que ouvir algo de alguém procure primeiro refletir antes de agir. Há pessoas que repassam informações falsas para criar situações comprometedoras. Quando alguém decide agir sem analisar a veracidade das informações poderá se comprometer ou tirar conclusões erradas.
3. SEJA UM EXEMPLO - quem não quer ser motivo de fofocas não deve fazer fofocas. Evidente que isto não garante que falem mal de mim pelas costas, mas certamente evita muitas situações deste gênero.
4. AFASTE-SE - procure afastar-se das pessoas que você percebe que são fofoqueiras. Além de não acrescentarem nada a você, ainda corre o risco de ser visto como um fofoqueiro (a) também.
5. DISTINÇÃO - saiba distinguir fofoca de informação. Fofoca é tudo aquilo que vem com a intenção de atacar alguém, sem conteúdo ou simplesmente com segundas intenções. Há informações que são trocadas na empresa e não estão classificadas como fofoca. Para distinguir é importante voltar para a primeira dica, isto é, usar critérios éticos para decidir se o que ouviu é verdade; se isso irá acrescentar algo para si ou para a associação, ou ainda para o ambiente.
Há ainda dois importantes livros de temas correlatos, ambos escritos por Marie - France Hirigoyen: Assédio Moral – A Violência Perversa no cotidiano; Mal-estar no Trabalho – Redefinindo o Assédio Moral.
Hirigoyen define o assédio moral como algo revelado por palavras e comportamentos repetidos com frequência e que visam à desqualificação e desmoralização profissional e a desestabilização emocional e moral da pessoa assediada, tornando o ambiente desagradável, insuportável e hostil. A vítima do assédio (funcionário de empresa ou mesmo voluntário ou associado de instituições sem fins lucrativos) se sente aprisionado a situações difíceis e que muitas vezes acarretam-lhe prejuízos sociais ou pessoais tais como problemas de saúde.
Aos presidentes institucionais, líderes comunitários, gerenciadores de empresas recomendo a leitura atenta das seis obras citadas− GAIARSA: Tratado Geral Sobre a Fofoca; DUNBAR: Como funciona a Fofoca; WILSON: Grooming, Gossip and the Evolution of Language; MARTINS: Reflexões do Mundo Corporativo; HIRIGOYEN: Assédio Moral e A Violência Perversa no cotidiano e Mal-estar no Trabalho.
Boa leitura!

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